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quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

NO PRINCÍPIO ERA O VERBO...
E OS CURSISTAS FAZENDO USO DO VERBO...



Assim foi o início da nossa oficina de Análise Linguística, um grande bate papo sobre o poema Criação, de Gilberto Mendonça Teles. Comentaram sobre intertextualidade, jogo de sentido das palavras e estabeleceram relação entre o poema e o que seria, por certo discutido ao longo da oficina.
Criação
O verbo nunca esteve no início
dos grandes acontecimentos.
No início estamos nós,
Sujeitos sem predicados,
tímidos, embaraçados,
às voltas com mil pequenos
problemas de delicadezas,
de tentativas e recuos,
neste jogo que se improvisa
à sombra do bem e do mal.

A composição musical de Eliana Prints – Morda minha Língua – suscitou inúmeras possibilidades de leitura, e motivados pela audição da música, refletimos sobre a necessidade de aproximação entre as variantes da língua usadas por alunos e por professores.
Morda Minha Língua
O que é que tá passando pela sua cabeça?
O que é que tá pegando pra você entender?
O que você ouviu você agora esqueça
Mesmo que pareça que vai desaprender
Arranje outra maneira de tratar do assunto
Deixe de manha, deixe de abstração
Não pense na parte, pense no conjunto
Não caia no buraco da desatenção
Fale minha língua, morda minha língua

Pra você aprender tem que experimentar
Fale minha língua, morda minha língua
Pra nossa gramática se misturar
Não venha me falar com esse ar de importante
Comigo não cola, pode relaxar
Tire sua boca do auto falante
Que ninguém vai ouvir o nosso particular
A sua sintaxe ta muito feia
Ta cheia de besteira e de lugar comum
Onde é que tá o belo, onde é que tá a idéia?
No meio da bobéia desse baticum
Fale minha língua, morda minha língua
O pote já secou e eu tô raspando o fundo
E o seu vocabulário não se renovou
Dê uma alegria a esse moribundo
Que pena todo dia como seu professor.

Interessante é perceber que apenas a gramática normativa é citada pelos professores quando motivados a discutir conceitos de gramática. A discussão ficou muito boa quando estabelecemos relações entre os tipos de gramática e tipos de ensino.
Em grupos, a fundamentação teórica ficou por conta do estudo de textos de Irandé Antunes, Maria Helena de Moura Neves e Geraldi.
Discutimos a postura dos professores de Língua Portuguesa diante do ensino de Gramática em sala de aula. Importante ressaltar que os professores cursistas demonstram clareza sobre a necessidade de um trabalho democrático, que valorize as diversas variantes da língua, mas não há clareza de como desenvolver esse trabalho. Essas discussões desestabilizaram alguns professores, que confessaram precisar repensar a prática.

A análise do texto de um aluno de quinta série foi feita pelos cursistas que sugeriram estratégias de correção, chamando a atenção sempre para a importância de se estabelecerem critérios claros para correção do texto. Tais critérios devem estar diretamente relacionados ao planejamento de escrita trabalhado no TP6. Comentamos também a importância da reescrita, o passar a limpo. Se o professor trabalhar a reescrita dos textos com seus alunos, ajudará bastante a diminuir os problemas apresentados nas produções textuais.

Foram sugeridas algumas atividades de pontuação e construção do sentido, presentes no AAA e no TP.
Tais atividades foram muito bem aceitas pelos cursistas, pois são divertidas e além de bastante significativas, funcionam como um desafio, prendendo a atenção de todos.
No final da oficina nos lembramos de que “no princípio era o verbo”... mas como diz Quintana,

Isto foi apenas no princípio.
Depois transigiu,
e muito.

Já não é o princípio, estamos “no meio da bobeia deste baticum” e precisamos nos encontrar...
então, companheiro, "morda minha língua, pra nossa gramática se misturar".